O cesteiro aritmético

Em dia de sol e vento
cesteiro que faz um cesto
faz um cento
de cestos de abas rasas,
sem testos, pegas nem asas.
Porém se houver nevoeiro
muito mais faz um cesteiro:
não faz cestos de abas rasas,
faz cestos de duas asas,
o que faz duzentas asas
para um só cento de cestos.
E tendo feito cem cestos
em dia de nevoeiro,
o mesmo mestre cesteiro
um cento de cestas faz,
cada qual com duas asas,
o que faz duzentas asas
para um só cento de cestas.
Depois do cento de cestas,
depois do cento de cestos
e dos quatro centos de asas,
com mais vime ainda o cesteiro
entrança duzentos testos,
para os dois centos de cestos.
Se levanta o nevoeiro
que farão duzentos cestos
tão enfeitados por testos,
puxados por tantas asas?
Voarão por sobre as casas
ou ficarão no terreiro
ao redor do mestre cesteiro?



Violeta Figueiredo
Do livro: O gato do pelo em pé
Alfragide, Editorial Caminho, 1997